O brincar na educação infantil: A construção de
hábitos e valores para uma proposta de educação transformadora
As crianças exploram o imaginário como um elemento
intrínseco a sua vida, as brincadeiras, jogos povoam este espaço enriquecendo
suas vivências com os outros e o mundo que a circunda. As brincadeiras e jogos
infantis têm as suas características e evolução, vão desenvolvendo-se de acordo
com a fase do desenvolvimento inserida a criança e as suas vivências com o
meio. Desde o período sensório-motor, que a criança ao explorar o espaço e
descobri-lo ao jogar com regras no período pré-operatório já realiza brincadeiras
sociais.
Palavras – chave: criança -
brincadeira - mundo - conhecimento
A brincadeira povoa o universo infantil desde os
tempos mais remotos da História. Através dela a criança apropria-se da sua
imagem, seu espaço, seu meio sócio-cultural, realizando inter e intra-relações.
Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil, o Brincar é um
precioso momento de construção pessoal e social, é permeado pelo eixo de
trabalho Movimento, onde a criança movimenta-se construindo sua moralidade,
afetividade perante as situações desafiadoras e significativas presentes no
brincar e inerentes à produção social do conhecimento.
A criança é um ser complexo e único e na educação
atual não deve ser vista como um homem em miniatura, nem como um indivíduo sem
direitos e deveres, para tanto se faz necessário o conhecimento da importância
do brincar para a construção de hábitos e valores a partir do jogo simbólico, tipos
de jogos e sua contribuição para a construção de um propósito de educação
transformadora na Educação Infantil para subsidiar a construção da Proposta
Holística e Transformadora.
Uma proposta holística traz em si uma verdadeira
visão de um ser em totalidade e um cidadão consciente e reflexivo dos seus atos
para a sociedade pautada nos valores éticos, morais e afetivos na construção de
um mundo melhor.
AS MANIFESTAÇÕES INFANTIS ATRAVÉS DO BRINCAR:
Exteriorização da realidade e a construção de hábitos e valores a partir do
jogo simbólico
As brincadeiras que povoam o universo infantil são
a maneiras pela quais as crianças expressam-se no mundo. São nelas que elas
representam papéis, criam personagens, exploram brinquedos enfim encontram
sentido para a sua vida.
Um brinquedo é um objeto ou uma atividade lúdica,
voltada única e especialmente para o lazer, e geralmente associada com
crianças, também usada por vezes para descrever objetos com a mesma finalidade,
voltada para adultos. Na Pedagogia, um brinquedo é qualquer objeto que a
criança possa usar no ato de brincar. Alguns brinquedos permitem às crianças se
divertirem enquanto ao mesmo tempo as ensinam sobre um dado assunto. Brinquedos
muitas vezes ajudam no desenvolvimento da vida social da criança, especialmente
aquelas usadas em jogos cooperativos.
Brinquedos são de vital importância para o
desenvolvimento e a educação da criança por propiciar o desenvolvimento
simbólico, estimular sua imaginação, sua capacidade de raciocínio e sua
auto-estima. Desde tempos antigos, os brinquedos tiveram um importante papel na
vida das crianças. Por milhares de anos crianças brincaram com brinquedos dos
mais variados tipos. Bolinhas de gude foram usadas por crianças no continente
africano há milhares de anos atrás. Até o final do século XIX, a maioria dos
brinquedos era fabricada em casa, ou fabricada artesanalmente.
Atualmente, a grande maioria dos brinquedos são
fabricados em massa, e comercializados. A partir da segunda metade do século
XX, vários países criaram leis que proíbem a venda de brinquedos considerados
perigosos - por exemplo, por conterem materiais tóxicos ou partes que se soltam
facilmente - ou que não possuem claros avisos - por exemplo, não recomendado
para menores de três anos de idade por conter materiais que podem ser engolidos
pela criança. Tais leis também dão ao governo o direito de recolher do mercado
todos os produtos que não atendem às especificações necessárias.
O ato de brincar em si, geralmente não exige um
brinquedo, que seja um objeto tangível, pode acontecer como jogos simbólicos
(faz-de-conta).
O filósofo Huizinga,
em 1938, escreveu seu livro Homo Ludens, no qual argumenta que o jogo é uma
categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio
(Homo sapiens) e a fabricação de objetos (Homo Faber), então a denominação Homo
ludens, quer dizer que o elemento lúdico está na base do surgimento e
desenvolvimento da humanidade.
Huizinga define jogo como: “uma atividade voluntária
exercida dentro de certos e determinados limites de espaço e tempo, segundo
regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotadas de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de alegria e tensão de uma
consciência de ser diferente de vida cotidiana”.
O jogo simbólico como seu próprio nome nos diz,
remete a idéia da simbolização, ou seja, é pelo faz-de-conta que a criança
imagina coisas irreais, abstratas e externas para a sua realidade, o jogo
simbólico possibilita a criança desfrutar de uma presença ou permanência de
alguma coisa. Do ponto de vista etimológico, faz-de-conta é sinônimo de
quimera, um monstro mitológico que se dizia possuir cabeça de leão, corpo de
cabra e cauda de serpente e lançar fogo pelas narinas. Na história da infância,
nunca houve tanta preocupação com as crianças como acontece hoje em dia,
constata-se, no entanto, que a criança não dispõe mais de tempo para vivenciar
suas brincadeiras e fantasias, tão benéficas ao seu desenvolvimento mental e
emocional.
Por um lado é valorizada a espontaneidade e
expressão infantil, ao passo que, por outro, bloqueia-se suas manifestações
naturais. Sabe-se que os pais são os primeiros agentes sociabilizadores e os
educadores mais importantes para seus filhos, apesar dessa assertiva, não
assumem a maior parte da responsabilidade sobre eles. Da mesma forma,
acredita-se que as crianças devem viver e comportar-se dentro do que lhe é
próprio, porém suas “infantilidades” são criticadas e bloqueadas pelos adultos.
Defende-se a importância do brincar na construção do desenvolvimento e
aprendizado infantil, mas quando ordenamos, em determinadas circunstâncias, que
parem de brincar e elas resistem, não se compreende essa rebeldia e
repreende-se com “a autoridade de adulto”. Incentivam-se as crianças a criar e
se expressar só que da maneira que se idealiza para elas.
As crianças pequenas precisam dos adultos a fim de
que possam ter seus direitos assegurados. A partir das questões que se
evidenciam, está despontando, atualmente, uma pedagogia da educação infantil
que respeite a criança como cidadã e a coloque no centro do processo
educacional.
Um desafio se coloca para o professor de educação
infantil: um novo olhar sensível e reflexivo sobre a criança, procurando
compreender e aceitar os sinais que manifesta e que comunica a respeito do que
é e espera do adulto.
Dos estudos de Rousseau, Froebel, Decroly,
Montessori a Piaget e seus seguidores abrem-se um novo conceito para o
desenvolvimento cognitivo com a construção do conhecimento. Segundo Freinet, a
ótica do desenvolvimento natural e da perspectiva cultural e social se delineia
e com Vygotsky, se confirma o paradigma contemporâneo da educação infantil, que
destaca no pensamento e na linguagem, na interação e na mediação a tônica de uma
educação infantil que de escolar, com o foco no aluno, configura-se como
educacional, e passa a concentrar sua atenção na criança, competente e sujeito
de direitos.
O jogo simbólico segundo Piaget indica que as
crianças já possuem a função simbólica, de representar e isto é, uma forma de
assimilação da nossa inteligência, pois a criança incorpora ao seu mundo
objetos, pessoas ou acontecimentos significativos e os reproduz por meio de
suas brincadeiras.
E se o meio interfere na construção desta criança,
através do brincar, simbolizar, devemos nos preocupar com uma pedagogia voltada
a educação infantil, superando o assistencialismo e confirmando a integração
educação e cuidado, que envolve a criança e o adulto, que contempla a família,
que viabiliza uma nova organização de tempo e espaço pedagógico, com o
desenvolvimento de projetos interdisciplinares no lugar de disciplinas
curriculares isoladas, vindo a garantir a construção da cultura infantil.
É preciso ampliar a rede de solidariedade de
preocupações com as crianças de zero a seis anos, reavivando a imagem do
professor diante do sentido da ação educativa na contemporaneidade.
Diante do contexto de desafios e descaso entre
professores encontram-se os que tiram de quase nada formas criativas, amorosas, inovadoras, estimulantes, que mobilizam a
curiosidade das crianças de aprender, o que as faz a cada dia retornar à escola
com brilho nos olhos, cheias de perguntas, cheias de descobertas, eufóricas por
compartilhar com a professora e com as outras crianças os seus novos saberes e
novos desejos de saber permeados pelo simbolizar intrínseco ao brincar.
TIPOS DE JOGOS E BRINCADEIRAS - contribuição para a
construção de um propósito de educação tranformadora na educação infantil
Antes de falarmos dos tipos de jogos e brincadeiras
devemos pensar sobre a sua relação com a escola, segundo Nilce Helena Silva
Cunha, é importante brincar porque a criança sem medo de errar, adquire conhecimento
espontaneamente e com prazer.
Desenvolve-se a sociabilidade, aprende-se a
conviver com o próximo, aprende-se a trabalhar em equipe, a aceitar diferenças.
Ao possuir motivação intrínseca, exercitam-se as potencialidades com plenitude
e os desafios tornam-se parte natural da vida e vontade em vencê-los um
exercício. É por meio dos jogos e brincadeiras que o professor nutre a sua vida
interior descobrindo elementos a sua volta, do mundo e com sentido a sua vida.
O que a criança realmente precisa é o
reconhecimento do seu tempo livre, de espaço, recursos adequados para que seus
interesses possam ser desenvolvidos, não ser livremente explorada pelos meios
de comunicação de massa. Desta maneira, através do brincar, que é um direito
seu, ela pode se nutrir.
Na convenção sobre os direitos da criança realizada
em assembléia geral pelas Nações Unidas em 1989 garante-se em seu artigo 31,
que os Estados devem reconhecer o direito
da criança ao lazer de acordo com a sua faixa etária, descanso, bem como a sua
livre participação na vida cultural e artística da sociedade.
No brincar, casam-se a espontaneidade e a
criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais. Em outras
palavras, é brincando que a criança se humaniza, aprendendo a conciliar de
forma efetiva a afirmação de si mesma à criação de vínculos afetivos
duradouros.
O papel do brincar na educação da criança é
fundamental. A vivência instantânea provocada pelo brincar dá a chance da
criança exteriorizar seus sentimentos, exercitar sua iniciativa, assumir a
responsabilidade por seus atos. Através da brincadeira, a criança aprende a
viver, trabalha sua auto-estima.
Cabe à escola criar condições de expressão e de
comunicação para que a criança através do brincar, tenha uma visão consciente
do seu mundo. Tem também o papel de auxiliar pais e mães na compreensão dos
reais benefícios do brincar. A parceria entre escola e paternidade
comprometidas é uma grande garantia de crescimento e desenvolvimento integral e
pleno da criança.
O ser humano em suas diferentes fases de desenvolvimento está sempre
construindo conhecimentos, tentando se organizar. Para cada etapa há relações
com os tipos de construções realizadas e destas vivências despontam modos de
atuação que se adequam melhor à vida cidadã.
O ser humano passa por diferentes etapas nesta
construção, desde o chupar o polegar até elaborar pensamentos com diferentes
estruturas. Construir um saber apropriar-se de um conhecimento. É no seio deste
processo que a criança irá construindo com a possibilidade de transformar o
objeto, de acordo com a experiência de cada um. Sem a brincadeira (lúdico) fica
tedioso o processo de aprendizagem. É necessário que a construção se faça a
partir do jogo, da imaginação, do conhecimento do corpo.
Brincar é vital, primordial e essencial, pois, esta é a maneira que o sujeito
humano, na saúde, utiliza para se estruturar como sujeito da emoção, da razão e
da relação.
Para atuar na Educação Infantil e necessário
conhecer as crianças, suas características e seus direitos, conhecer a
metodologia própria para atuar com mediador, bem como a legislação que
possibilite a formação de um cidadão na atualidade e que respalde um verdadeiro
trabalho pedagógico na Educação Infantil. É preciso enfatizar igualmente a
multiplicidade de fatores que estão presentes nessas relações exigindo um olhar
multidisciplinar que se expresse nas suas ações pedagógicas, que se diferenciam
da escola básica, que envolve, sobretudo, além da dimensão cognitiva, as
dimensões lúdica, criativa e afetiva, numa perspectiva da autonomia e da
liberdade. Cabe sempre ressaltar a importância de perceber, na escola de
Educação Infantil, não apenas caráter preliminar, assistencialista ou
compensatório, mas sua finalidade própria de cuidar e educar, de formar a base
para a construção da cidadania.
Portanto, a formulação de uma proposta pedagógica
para a educação infantil pressupõe uma ampla reflexão teórica tendo como
preocupação básica a própria criança e o seu processo de constituição como ser
humano em diferentes contextos sociais, a sua cultura e as capacidades
intelectuais, criativas, estéticas e emocionais.
O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente
meio estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança (e
até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o
indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições.
Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do
anseio em ser livre.
Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos,
a aceitação das regras, mas sem que se aliene a elas, posto que são as mesmas
estabelecidas pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura alienante.
Brincando com sua especialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um
atalho entre o mundo inconsciente, onde desejaria viver, e o mundo real, onde
precisa conviver. Para Huizinga (apud ANTUNES, 1998) o jogo não é uma tarefa
imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança,
estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra
ritmo com harmonia.
TIPOS DE
JOGOS SEGUNDO PIAGET
Exercício: Constituem atividades funcionais primárias, que permitem processar
esquemas durante o período sensório - motor, como puxar, atirar a ação é
perceptiva ocasionada devido a uma ação e experimentação em busca de novidades
e descobertas. A sua própria função é exercitar as condutas por puro prazer
funcional;
Símbolo: nesta fase a criança já possuem um conhecimento sensório-motor
realizado e outros fatores estão em ascensão como o conhecimento
representacional, a criança começa a representar, dramatizar e desenvolve a
capacidade de imaginação e criação, com o uso da linguagem.
O jogo simbólico consiste na criança poder
representar alguma coisa a um significado qualquer: objeto, acontecimento por
meio de um significante que só serve para essa representação: linguagem, imagem
mental e gesto simbólico.
Regra: é nesta etapa que a criança exercita as regras para o convívio com o
grupo, aqui se estabelecem pactos, normas inicialmente lúdicas, depois elas
evoluem num primeiro estágio é puramente motor, no segundo é egocêntrico, no
qual as crianças jogam para si mesmas permitindo o mesmo comportamento para todo
o grupo, no terceiro estágio a sua característica é a cooperação, no qual
aparece o sentido de colaboração e uma obediência a regra de acordo com o
pacto, e o último estágio é o codificação das regras, em que ocorre a
consciência total do grupo sobre as regras.
Quanto ao brincar este é um ato tão espontâneo e
natural para a criança quanto comer dormir, andar ou falar. Basta observar um
bebê nas diferentes fases de seu crescimento para confirmar tal fato: logo que
descobre as próprias mãos, brincar com elas; a descoberta dos pés é outro
brinquedo fascinante; diverte-se com a voz quando balbucia os primeiros sons;
cospe a chupeta ou o alimento vezes seguidas; atira, incansavelmente, um objeto
ao chão, desafiando a paciência de quem o apanha; levanta-se e torna a cair
entretendo-se com isto; pula sem parar; corre sem se cansar.
É brincando que a criança conhece a si e ao mundo:
quando mexe com as mãos e os pés, segura a chupeta ou um brinquedo, seja
levando-os à boca, sacudindo ou atirando-os longe, vai descobrindo suas
próprias possibilidades e conhecendo os elementos do mundo exterior através da
comparação de suas características, tais como, macio, duro, leve, pesado,
grande, pequeno, áspero, liso. Enquanto brinca, aprende: quando corre atrás de
uma bola, empina uma pipa, rola pelo chão, pula corda, está explorando o espaço
à sua volta e vivenciando a passagem do tempo.
TIPOS DE BRINCADEIRAS SEGUNDO PIAGET
Brincadeiras Solitárias: tudo deve ser explorado, pois no início brincar
significa isto, a presença de outra pessoa não há interesse, brinca com
diferentes coisas e pode estar em silêncio ou falar sozinha;
1. Brincadeiras em Paralelo: brinca ao
lado de seus colegas, sem esforço para fazer contato, absorve-se na sua própria
atividade, defendendo seus brinquedos se necessário;
2. Brincadeira com outros do
Grupo: pode ser tranqüilos ou tempestuosos de acordo com o grupo a qual se
insere. No primeiro momento envolvem-se em fazer o que os outros do grupo estão
fazendo para tornar-se membro do mesmo. Em outro momento, o interesse principal
é conversar uns com os outros, o assunto da conversa pode distanciar-se
completamente da atividade, pode até ser mencionada, mas outra vez serão
relacionadas com o que as vivências sociais da criança, contando até mesmo o que
elas gostam ou não gostam.
3. Brincadeiras Cooperativas :
• Cooperação Simples: podem constituir apenas a atividade
conjunta para as crianças montarem objetos com peças de encaixe ou fazer
castelos de areia. A criança toma parte de atividades compartilhadas, fazendo
as mesmas coisas, divide brinquedos, espera a sua vez, trabalha com os outros.
A conversa é a principalmente em torno da própria atividade.
• Cooperação Complexa: neste tipo de brincadeira a criança assume
diferentes papéis, esperam a vez, e toda a atividade depende mais do desempenho
conjunto do grupo. A criança brinca de faz de conta, participa também de jogos
com regras complexas, a conversa gira em torno dos papéis representados.
Conhecer a criança é buscar suportes teóricos -
metodológicos além de suas fases de desenvolvimento, respeitar o ambiente no
qual ela se insere, conhecer as suas atividades com o grupo, mediar seus
conflitos em prol de um resultante humanístico torna o trabalho pedagógico
intrínseco a valores para uma cultura de vida igualitária e respeitosa entre
nós.
OS
JOGOS, BRINCADEIRAS e uma proposta holística para uma ação transformadora na educação
infantil
Perante as transformações do mundo contemporâneo e
dos processos de convivência humana a qualificação do trabalho do professor
juntamente com propósitos formulados de acordo com a realidade da sua turma, a
faixa etária bem como seus níveis de desenvolvimento físico e social, se fazem
necessários para a aquisição de saberes.
Brincar pode ser entendido como mudança de
significado, como movimento, tem uma linguagem, é um projeto de ação. Brincando
molda-se a subjetividade do ser humano, cunha-se a realidade estabelece-se um
tempo e espaço. Brincar é criar, criar uma forma não convencional de utilizar
objetos, materiais, idéias, imaginar. É inventar o próprio tempo e espaço.
O conhecimento faz parte de nossa vida seja nos
meios empíricos e científicos, mas para este fazer parte de uma aprendizagem
significativa precisa ser vivido, experimentado e relacionado com as suas
vivências culturais. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil a cultura é entendida como uma forma ampla, plural, científica e
social da humanidade e está em constante transformação e ressignificação.
Cada indivíduo traz em si um repertório de
situações e estas devem ser exploradas durante as realizações das atividades
bem como na suas elaborações do planejamento do professor.
O homem surge agora como um indivíduo, e já não
como membro de uma comunidade ampliada às dimensões do universo e a cultura
incorporada na metafísica, deixa de ter daqui em diante uma ligação precisa com
um território, um sistema, uma tradição (TOUCHARD, 1967, p.67).
A construção do conhecimento em uma de suas bases
deve ser destacada o aspecto afetivo, pois o jeito de olhar, apropriar-se do
outro no processo educativo amplia as possibilidades de êxito na aprendizagem.
Nas brincadeiras e jogos infantis este aspecto é de suma importância e ao
vivenciar esta ludicidade as crianças terão momentos únicos de descoberta,
prazer e afeto com o grupo e o professor que media o processo.
O professor que sabe integrar afeto, inteligência e
imaginação, no convívio estabelece vínculos afetivos e dá-lhes a certeza de que
neste mundo se pode confiar nos adultos. As crianças, além de terem as suas
fases de desenvolvimento respeitadas, bem como a sua particularidade pessoal
devem ser cuidadas e, além disto, precisam aprender a cuidar de si mesmas, do
outro e do ambiente, interligando a razão e coração.
No momento das realizações das brincadeiras tem de
ser observado, por exemplo, utilizar materiais de acordo com a faixa etária das
crianças, o ambiente limpo e arejado, livre de objetos que possam ferir e
machucar a criança dão o respaldo para que o professor não preocupe-se em foco
com a questão do assistencialismo, mas que possa estar livre para observar,
participar e mediar o momento da brincadeira realizada.
No brincar, o professor deve ter conhecimentos
teóricos - metodológicos que subsidiem a sua práxis pedagógica enriquecendo
este momento da rotina, tornando-o encantador e enriquecedor para as crianças.
De acordo com Perrenoud, envolver os alunos em suas aprendizagens, traduz-se
por suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o mesmo e
desenvolver a capacidade de realizar a sua auto-avaliação. O professor por sua
vez, também deve realizar esta capacidade e permitir que a mudança de rumos
seja sua aliada sempre que o processo educativo esteja com agravantes e
indicativos de problemas.
Além de compreender a criança como sujeito integral
o professor precisa conhecer e saber lidar com os limites para que a criança
possa desenvolver uma consciência da necessidade de mediação, em que as ações
superem as atitudes, ao mesmo tempo necessita humanizar os espaços e suas
vivências infantis, assegurando há todas um dia-a-dia interessante, bonito e
gostoso de viver.
Educar crianças é uma tarefa exigente, demorada e
requer uma eficiente formação dos professores, pois não necessariamente o
motivo deriva-se pela quantidade de tempo que os mesmos passam com a criança,
mas também por alimentar uma atitude de curiosidade pelo mundo por meio do
envolvimento com a própria formação cultural.
Brincar, correr, saltar, pintar, dançar etc.
remete-nos a idéia da criança, e esta os executa diferentemente do adulto, com
gosto pelas atividades lúdicas e com uma linguagem única e múltipla ao mesmo
tempo para compreender e expressar-se no mundo.
Sendo assim contribuir para as suas aprendizagens é
um trabalho que começa pelo tempo de conhecer a criança, segue por alimentar
uma atitude de curiosidade pelo mundo em busca de uma formação ampla. Tudo
compartilhado com competência profissional, de arte, de sabedoria, de
delicadeza e de uma profunda vontade de ousar, de se surpreender e de se ver
como um professor – educador que aposta nas crianças.
Objetivos do professor investidor:
• Observar as crianças nos seus diversos espaços e explorações para
auxiliá-las na superação das dificuldades;
• Organizar diariamente o espaço para
recebê-las, compartilhando o registro da rotina para que possam estruturar-se
no tempo e espaço; • Favorecer atividades para a construção do
conhecimento nas diversas áreas;
• Proporcionar atividades
lúdicas, psicomotoras a fim de desencadear esquemas de equilibração sobre o
trabalho interdisciplinar;
• Estabelecer um clima de
confiança para que as crianças se sintam seguras e construam uma auto - imagem
positiva;
• Mediar situações de conflito
para um desenvolvimento cooperativo;
• Viabilizar que as
brincadeiras e jogos infantis tenham espaço priorizado durante as aulas, bem
como materiais adequados ao nível das crianças.
O pensamento infantil é regido por uma lógica
diferente da do adulto, as crianças pensam de maneira sincrética, exprimindo as
cores dos afetos, da imaginação, das lembranças e de tantas relações que são
capazes de fazer. As brincadeiras são particulares das crianças, elas passam os
dias brincando e, ao, brincar transformam e inventam coisas, vivem com intenso
prazer o momento de conhecer. A
medida do desenvolvimento de suas fases as crianças, dão sentido diversos para
os objetos a brincadeira cresce, a boneca, ganha vida e insere-se como filha na
brincadeira de casinha, um cabo de vassoura vira num cavalo e assim tudo se
transforma em suas mãos.
As
crianças aprendem a brincar de faz-de-conta, que é uma atividade essencial para
o seu desenvolvimento, mas embora em todas as culturas os pequenos se envolvam
em jogos simbólicos, ainda assim não brincam da mesma maneira, a brincadeira
não é inata, nem espontânea. Elas aprendem a brincar brincando, interagindo com
seus colegas, com objetos informados pela cultura no meio em que vivem. O
mundo é o espaço infinito para as crianças e nele cabem muitos outros, são
possíveis diversas viagens, de tempo, duração e lugar o que comanda é a
capacidade de criar e aventurar.
Ao
ser convidada a entrar em contato com a diversidade do mundo, as crianças podem
interpretá-los por meio da sua própria linguagem, a expressão corporal, o
brincar do seu universo simbólico expressado no faz-de-conta e transpor através
de suas falas e ações.
Esta
maneira em que a criança consegue transpor as experiências vividas e exteriorizá-las
é um meio de ser e estar no mundo. Quando
se insere em ambientes enriquecedores, instigantes e cheios de espaços para
aprender a criança avança. O seu pensamento evolui e vai estruturando-se a cada
nova idéia elaborada, a cada experiência, na interação com discursos diversos
que as nutrem para pensamentos cada vez mais complexos.
Para que toda esta proposta de ação holística sobre
o Brincar na Educação Infantil efetue-se o professor precisa de muita dedicação
e amor ao seu trabalho. O caminho da sua elaboração e execução é extenso mas
nunca fixa, ela deve variar conforme a realidade em que se insere.
Incluir
as crianças com respeito a suas necessidades, envolvendo as suas famílias como
produtores de sua cultura, enfim seu meio social é uma das mais variadas formas
de fazer e acontecer a prática educativa transformadora em cada espaço da
Educação Infantil, promovendo mudanças positivas nas crianças.
Uma
proposta para ser transformadora deve pautar-se nos valores éticos, morais,
afetivos para que haja um respeito mútuo entre todas as crianças desde a
Educação Infantil, onde seus reflexos sejam resultantes num espaço maior, o
mundo em que vivemos, onde a criança brincando e jogando compreenda
inconscientemente que viver é um jogo de regras.
KARINE DE OLIVEIRA
LUNARDI
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