O PAPEL DO PROFISSIONAL DA ED. INFANTIL
A perspectiva
teórica do sociointeracionismo destaca o papel do adulto frente ao
desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas
e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua auto-estima e
desenvolver suas capacidades.
A auto-estima
refere-se à capacidade que o indivíduo tem de gostar de si mesmo, condição
básica para se sentir confiante, amado, respeitado. Tal capacidade, porém, não
se instala no indivíduo como num passe de mágica, mas faz parte de um longo
processo, que tem sua origem ainda na infância. Cabe ao adulto ajudar na
construção da auto-estima infantil, fornecendo à criança uma imagem positiva de
si mesma, aceitando-a e apoiando-a sempre que for preciso. No entanto, algumas
práticas podem ser prejudiciais ao bom andamento deste processo, como por
exemplo, a colocação de apelidos pejorativos nas crianças ("manhosa",
"maluco", "burro", etc.). Os/as profissionais das escolas
infantis precisam manter um comportamento ético para com as crianças, não
permitindo que estas sejam expostas ao ridículo ou que passem por situações
constrangedoras. Alguns adultos, na tentativa de fazer com que as crianças lhes
sejam obedientes, deflagram nelas sentimentos de insegurança e desamparo,
fazendo-as se sentirem temerosas de perder o afeto, a proteção e a confiança
dos adultos.
Outro aspecto a
ser considerado diz respeito às simpatias que os adultos desenvolvem em relação
a algumas crianças. Estas, por sua vez, também têm suas preferências,
identificando-se mais com algumas pessoas do que com outras. No entanto, o/a
profissional da educação infantil deve tratar a todas com igual distinção. Isto
implica não elogiar apenas uma criança (a mais simpática, a mais cheirosa, por
exemplo), em detrimento das outras, que podem se sentir rejeitadas, caso não
recebam o mesmo tratamento. As atenções e os elogios devem ser dados a todas,
não importando a cor da pele, a condição social, se são meninas ou meninos, se
têm este ou aquele credo religioso ou ainda se pertencem a determinada família.
Os adultos também devem evitar qualquer fala ou ação que possa dar margem a
atitudes preconceituosas ou discriminatórias em relação a pessoas ou grupos.
PROBLEMATIZANDO ALGUMAS PRÁTICAS NO COTIDIANO
DA ESCOLA INFANTIL
Determinados
aspectos que fazem parte do cotidiano da escola infantil podem influenciar de
maneira importante o desenvolvimento das crianças. Muitas vezes estes aspectos,
tais como a adaptação à escola, a alimentação, a troca de fraldas, os momentos
de sono, entre outros, passam desapercebidos ou se constituem em práticas pouco
discutidas no dia-a-dia das pessoas que lidam diretamente com a educação de
crianças pequenas. No entanto, muitas dessas práticas constituem-se em pequenas
violências que podem afetar negativamente o desenvolvimento infantil. Vejamos
algumas delas:
·
Adaptação: ao entrar na creche ou pré-escola a
criança se depara com um novo ambiente, composto de adultos e crianças com os
quais ela nunca interagiu. O distanciamento da família por longas horas do dia
e a inserção em um novo ambiente, com rotinas específicas, exigirão da criança
uma grande capacidade de adaptação. No entanto, este aspecto não diz respeito
apenas à criança, mas exige de sua família e também dos/as profissionais que
atuam na escola infantil um processo de adaptação.
Compete à
educadora perceber quais são as características daquela criança, seu jeito de
ser e de se relacionar com o novo ambiente que agora passará a frequentar, bem
como a maneira como interage com os/as colegas e com as pessoas que dela
cuidam/educam. E preciso respeitar o ritmo de cada criança, bem como suas
manifestações de medo e ansiedade. Os pais e as mães devem ter o direito de
circular nas dependências da escola, recebendo todas as informações necessárias
sobre a rotina desenvolvida naquela instituição.
Cabe à creche ou
pré-escola estabelecer, se possível, um sistema gradativo de adaptação para
cada criança, em que nos primeiros dias ela possa ficar apenas algumas horas e
aos poucos vá se acostumando àquele novo ambiente, até que permaneça em tempo
integral, se for o caso. Deve-se fazer um planejamento de ingresso na
instituição, através de um calendário a ser combinado com as educadoras e a
família, de forma que não haja numa mesma turma muitas crianças ao mesmo tempo
(no mesmo período) em fase de adaptação. Suponhamos que numa determinada turma
ingressem oito novas crianças: então pode-se fazer um planejamento para que a
cada dia a professora receba apenas uma ou duas no turno da manhã, e outras
duas crianças no turno da tarde. No dia seguinte pode-se receber mais duas e
assim por diante. Desta forma, é possível para a professora dar uma maior
atenção àquelas crianças que estão ingressando na instituição.
No período de adaptação
os pais podem ficar alguns momentos na sala, até que a criança adquira um pouco
de confiança naquele novo ambiente e nas pessoas que ali estão. Aos poucos não
será mais necessário que a mãe ou o pai fiquem todo o tempo na sala do/a
filho/a, podendo esperar na sala ao lado, por exemplo. No entanto, não se deve
mentir para a criança, dizendo que ficará lá fora, se a intenção for realmente
ir embora. A escola infantil não deve incentivar as "fugas" dos pais,
pois a criança deve ser informada de que eles precisam sair para trabalhar, mas
que voltarão mais tarde para apanhá-la. Sair sem que a criança perceba não é o
comportamento mais apropriado, pois ela precisa se sentir segura em relação aos
adultos, tendo confiança de que não será enganada. O que for estabelecido entre
educadora e pais com relação à adaptação da criança deverá ser mantido. Por
exemplo, se ficar combinado que o horário de entrada no período de adaptação
daquela criança é às 9 horas e a saída às 13 horas isto precisará ser
respeitado, a menos que haja alguma necessidade de mudança. Neste caso, novas
combinações poderão ser feitas, mas sempre em comum acordo entre educadoras e
pais.
De um modo
geral, as escolas infantis têm permitido que a criança traga de casa algum
objeto seu de estimação, para que ela possa se sentir segura e confiante frente
a este novo ambiente. Outra estratégia interessante pode ser estar com o irmão
mais velho ou com alguma outra pessoa na qual a criança confie (tia, avó, avô),
pois nem sempre os pais podem estar disponíveis ou podem ser liberados do
trabalho em função da adaptação da criança.
É importante
salientar que as dificuldades de adaptação não se manifestam apenas através do
choro, mas podem aparecer em forma de apatia, falta de apetite ou mesmo através
de algumas manifestações de doença. O ambiente da creche ou pré-escola deve ser
prazeroso e agradável, despertando a confiança da criança neste tipo de
instituição.
·
Relacionamento entre escola e pais: os responsáveis
pela criança devem ser sempre informados sobre tudo o que ocorrer com ela
durante o período em que estiver na instituição, bem como a forma de trabalho e
a proposta pedagógica que é ali desenvolvida. Algumas creches e pré-escolas
procuram manter esse diálogo através de agendas ou cadernetas onde são anotadas
as informações referentes àquele dia na instituição (se a criança comeu ou
dormiu bem, se caiu ou foi mordida por algum colega, etc). Tudo o que acontece
com a criança no espaço da escola infantil deve ser comunicado aos
responsáveis. Estes devem ser chamados a uma maior participação, sempre que
necessário. Porém é preciso estabelecer limites quanto à intervenção dos pais no
espaço escolar, pois alguns deles pensam poder mandar em tudo na escola,
desrespeitando muitas vezes o trabalho que é ali desenvolvido. Cabe à escola
infantil conquistar a confiança e o respeito dos pais, através de um trabalho
competente e bem fundamentado pedagogicamente.
·
O sono: não deve ser entendido sempre da mesma
maneira para cada faixa etária, pois cada criança possui um ritmo próprio em
relação às horas de sono de que necessita para seu descanso. Desta forma,
quanto menor a criança, mais tempo ela dormirá. Bebês precisam de um ambiente
calmo, aconchegante, para que seus momentos de sono não sejam perturbados. À medida
que vai crescendo, a criança não necessitará mais de tantas horas de sono à
tarde. Algumas escolas infantis, no entanto, costumam obrigar as crianças a
dormirem após o almoço, não respeitando assim as necessidades individuais de
cada uma delas. Chegam mesmo a usar inúmeras estratégias para que as crianças
durmam. Num primeiro momento, as estratégias utilizadas para fazer as crianças
dormirem, podem parecer até muito naturais, mas são na verdade uma violência ao
direito delas. É preciso proporcionar atividades alternativas para aquelas
crianças que não quiserem ou não conseguirem dormir. Alguns espaços poderão ser
adaptados para este propósito: o canto de leitura, atividades de pintura,
desenho, etc. O importante é proporcionar às crianças outras opções, além do
vídeo ou da música clássica, muitas vezes usados como estratégia para fazer as
crianças dormirem. Não se pode ignorar, porém, que muitas creches e pré-escolas
têm sérios problemas de falta de pessoal, o que as obriga a tirar como única
hora de descanso das atendentes, os momentos de sono das crianças. Cabe à
escola (e às instâncias superiores, se for o caso) tentar alternativas
adequadas para sanar este problema. O ideal é a contratação de mais
profissionais, a fim de que se possa fazer um escalonamento, para que todos os
que trabalham na instituição possam ter seus merecidos momentos de descanso,
sem, no entanto, prejudicar as crianças. Mesmo durante o período de sono das
crianças é indispensável a presença do adulto, no caso de alguma eventualidade
(a criança passar mal, ou simplesmente acordar, ou ainda ficar assustada por
algum motivo). E preciso lembrar que no horário de trabalho o profissional tem
que estar realmente trabalhando (e não descansando).
·
A alimentação: assim como as horas de sono, os
momentos da alimentação são, para muitas crianças e professoras, momentos de stress
e tortura. Na tentativa de proporcionar à criança uma alimentação variada,
rica em proteínas, etc., muitos adultos acabam obrigando a criança a comer,
mesmo que ela não goste ou não esteja com vontade. Outra questão polêmica
refere-se à introdução do copo ou caneca em substituição à mamadeira, pois no
Brasil muitas famílias costumam prolongar em demasia o hábito da mamadeira,
assim como o da chupeta ou bico. Sua retirada depende de longas negociações com
a criança. Estes problemas de ordem cultural acabam provocando um processo de
infantilização da criança. Qual deve ser a atitude da escola infantil frente a
estas questões?
Por volta dos
dois anos já é possível introduzir a caneca ou copo na hora das refeições. Caso
a criança se recuse, querendo apenas a mamadeira, não se deve obrigá-la a
utilizar o copo, pois o importante é que esteja alimentada. A introdução do
copo nas refeições deve ser feita gradativamente, sem exigir da criança sua
adesão imediata a essa nova forma de se alimentar.
·
Uso de chupetas: as teorias psicológicas têm
enfatizado a importância da fase oral para o desenvolvimento infantil. Desta
forma, a boca desempenha um papel fundamental, pois é através dela que o bebê
conseguirá não só o alimento, mas momentos de satisfação ao sugar o seio
materno. Na cultura brasileira o uso da chupeta ou bico tem sido um importante
aliado, na opinião de muitas mães e professoras, no sentido de acalmar as
crianças, ou ainda como uma espécie de substituto do seio materno. A utilização
ou não da chupeta no espaço da escola infantil tem-se tornado uma questão
difícil, pois em muitas famílias há o costume de prolongar o seu uso até idades
mais avançadas. O que fazer com as crianças que nunca chuparam chupeta, mas que
ao chegar na creche ou pré-escola, se sentem atraídas por tão
"fascinante" objeto, utilizado pelas demais crianças? No desejo de
imitar seus pares, tais crianças acabam por compartilhar com as outras a chupeta.
Ora, sabemos que apesar do conforto que a chupeta pode trazer, principalmente
para os adultos, que se vêem livres do choro e da solicitação infantil, este
objeto representa um foco importante de transmissão de doenças, principalmente
se sua higiene não é feita corretamente. É comum também presenciarmos cenas em
que a criança sai engatinhando pelo chão arrastando a chupeta, que geralmente
está presa à sua roupa por uma longa fita ou cordão. Os dentistas também
alertam para os prejuízos que a chupeta pode causar para a dentição. Como então
administrar tal situação? Deve a escola impor a retirada da chupeta? Em que
momentos esta pode ser usada no espaço da escola? Quais os prejuízos
pedagógicos que o uso constante da chupeta pode trazer?
O principal
prejuízo que o uso da chupeta pode trazer refere-se à dificuldade que a criança
terá em articular corretamente as palavras, caso esteja com a chupeta na boca.
Além disso, certamente apresentará um comporta-mento mais regressivo, que a
impedirá de vivenciar novas conquistas, principalmente no campo da linguagem.
Algumas
combinações previamente estabelecidas com a família e com o próprio grupo de
crianças talvez seja a forma mais adequada de lidar com essa questão. Crianças
entre dois e três anos já conseguem entender algumas regras que podem ser
introduzidas no grupo. Combina-se, por exemplo, que ao chegar na escola
infantil, as crianças devem guardar a chupeta na mochila, ou que a mesma só
será devolvida na hora do descanso.
·
O choro: Há uma ansiedade muito grande dos
adultos em torno das manifestações de choro da criança. No entanto, seria
interessante aprendermos a escutar melhor este choro, para melhor
interpretá-lo, pois existem sutis diferenças entre um choro de angústia, fome,
raiva, dor ou desconforto. Cabe ao adulto: não manifestar irritação diante do
choro infantil, rotulando a criança de "chorona", "mimada",
etc; dar colo e aconchego não deve ser considerado como um precedente para
tornar a criança "manhosa"; tentar perceber o motivo do choro é
fundamental para uma intervenção adequada, sanando assim a necessidade daquela
criança; no caso de crianças um pouco maiores que já saibam falar, pedir a elas
que digam o motivo de sua insatisfação, pois é importante fazer com que
percebam a importância e eficácia de expressar suas necessidades, seus
problemas e seus desejos através da fala e da argumentação.
·
Tirando as fraldas, controlando os esfíncteres: o controle das
fezes e da urina talvez seja uma das primeiras cobranças externas de
socialização, constituindo-se em momentos de muita ansiedade para os adultos,
que, por vezes, obrigam as crianças a permanecerem longos períodos no penico
até que façam suas necessidades fisiológicas. E preciso lembrar mais uma vez
que não devemos estabelecer uma idade rígida para que isto se dê. Geralmente a
capacidade de controlar o coco e o xixi começa por volta dos dois anos, ou
mesmo antes, para algumas crianças.
Cabe à escola
infantil estabelecer algumas combinações com a família para a tirada da fralda
e a introdução do uso do penico, pois o ideal é que isto se dê de forma
conjugada - tanto na escola quanto na família. No entanto, colocar as crianças
por muito tempo no penico, ou brigar com elas, expondo-as até mesmo ao ridículo
pelo fato de não terem conseguido se controlar, pode ser considerado como
maus-tratos. Esta atitude de incompreensão e intolerância por parte do adulto
pode trazer sérias consequências de ordem psicológica para a criança. Em alguns
casos há uma inibição que se expressa não só pela recusa em ir ao banheiro, mas
pode chegar ao extremo da criança desenvolver verdadeiro pânico ao ter que ir
para a creche ou pré-escola, não querendo passar de novo por alguma situação
constrangedora diante dos companheiros ou da professora.
Outro problema refere-se à prática de colocar
todas as crianças ao mesmo tempo e à mesma hora para fazer coco ou xixi, como
se todas as pessoas fizessem suas necessidades sempre no mesmo horário. Tal
atitude também se constitui numa violência aos direitos da criança. Essa
questão do que deve ser coletivo e do que deve ou pode ser individual precisa
ser melhor debatida no contexto escolar, especialmente na escola infantil.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS,
Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios para um atendimento em creches que
respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC/SEF/COEDI,
1995.
CRAIDY,Carmem Maria. Org. Educação Infantil: pra que
te quero? Porto Alegre. Ed. Artmed, 2001. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma
perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante para melhoria do meu blog.