A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA E DA LEITURA
Pesquisas de Emília Ferreiro
demonstram que a leitura e escrita, como objetos culturais de conhecimento, são
adquiridos por um processo de auto-construção, no confronto e interação da
criança com o seu meio.
Nessas
pesquisas, E. Ferreiro comprovou que os vários métodos e estratégias com vistas
a favorecer a compreensão e o domínio da leitura e da escrita pela criança,
assim como os testes de maturidade, listas de habilidades motoras e
perceptivas-temporais, não são suficientes para atingir o êxito desejado no
processo de leitura e escrita.
Haja
vista o grande número de crianças que não se alfabetizam mesmo com vários anos
de escolaridade. Por isso, a educadora buscou na teoria de Piaget a explicação sobre o desenvolvimento da
criança no ato de ler e escrever, do ponto de vista cognitivo.
A PSICOGÊNESE DA ESCRITA E DA LEITURA
A partir dos dois anos (assim que
a criança consegue pegar no lápis ou caneta), ela começa a “rabiscar” (deixar
marcas no papel). É a época das garatujas.
A princípio, é a imitação mecânica do ato do adulto ao escrever. Mas, a
nível conceitual, a criança já dá nome aos seus rabiscos. Ela pode se referir a
eles como: “é o papai”, “o caminhão dele”, “minha casa”.
Observação:
transição – garatuja/icônico
À medida que a criança vai
crescendo nos seus estágios cognitivos e à medida que lhe é dada oportunidade
com materiais impressos e de desenhos, ela vai avançando cada vez mais. É importante
nesta fase estimular a criança a folhear revistas, jornais, livros de
histórias, fotos, levando-a a interpretar gravuras e colocar à sua disposição
lápis cera grosso, pincel atômico, folhas brancas (grande), para representação
gráfica de seu pensamento.
CONCEITUALIZAÇÃO DA ESCRITA
A escrita como
um sistema de representação da língua, cuja a aprendizagem significa a
apropriação de um novo objeto do conhecimento. A questão fundamental no
processo de alfabetização é a compreensão da estrutura do sistema alfabético
enquanto representação da língua, ou seja, não se trata de considerar a escrita
alfabética como uma representação gráfica dos sons da língua.
Dentro
dessa perspectiva, E. Ferreiro considera que, no início do processo de
alfabetização, as palavras consideradas pela crianças como protótipo da escrita
são os substantivos (nomes próprios, comidas, bichos, brinquedos, etc), que
devem ter no mínimo 3 letras e também uma variedade delas. Para a criança, as
palavras são escritas com diferentes letras, sem repetição. Por outro lado, a
evolução da escrita passa necessariamente pelas etapas descritas por E.
Ferreiro:
a) Nível Pré-silábico
– caracteriza-se por uma busca de diferenciação entre as escritas produzidas,
sem uma preocupação com as propriedades sonoras da escrita. Nesse nível, a
criança explora tanto critérios quantitativos (variar a quantidade de letras de
uma escrita para outra, para obter escritas diferentes) ou critérios qualitativos (variar o
repertório das letras ou a posição das mesmas
sem alterar a quantidade).
Não existe uma relação entre fonema/grafema. A correspondência entre a
escrita e o nome é global, as partes da escrita não correspondem ainda as
partes do nome. Cada letra pode valer pelo todo e não tem valor em si mesma.
b) Nível Silábico
- caracteriza-se pela correspondência entre a representação
escrita das palavras e suas propriedades sonoras. É a descoberta de que a quantidade de letras com que se vai
escrever uma palavra pode ter correspondência com a quantidade de partes que se
reconhece na emissão oral. Essas partes são as sílabas e em geral a criança faz
corresponder uma grafia a cada sílaba. Pode servir qualquer letra ou existir
uma associação do som à letra convencional. Ex:
TO MA TE
o
a e ou
l x o
Esse nível representa um salto qualitativo
da criança, que supera a etapa da correspondência global entre a forma escrita
e a expressão oral atribuída. A hipótese silábica é uma construção da criança,
que não é transmitida pelo adulto e pode coexistir com formas estáveis, isto é,
palavras que a criança aprendeu a escrever globalmente.
c) Nível Silábico-alfabético – a evolução desse nível leva a criança
a estabelecer que as partes sonoras semelhantes entre as palavras se exprimem
por letras semelhantes. Nesse nível, existem duas formas de correspondência
entre sons e grafias: silábica (sílaba é o som produzido por uma só emissão de
voz) e alfabética (análise fonética ou
análise dos fonemas, que são os elementos sonoros da linguagem e têm nas letras
o seu correspondente. O conjunto de letras é o alfabeto). Ou seja, a criança
escreve parte da palavra aplicando a hipótese silábica, de que para se escrever
uma sílaba é necessário apenas uma letra; e parte da palavra analisando todos
os fonemas da sílaba.
Ex: Para cavalo podem aparecer:
Alfabética silábica ou alfabética silábica alfabética
CA VO
CA U
LO
ca valo ca
va lo
d) Nível alfabético – caracteriza-se pela correspondência entre
fonemas e grafias. Existe a compreensão da escrita alfabética, onde todos os
fonemas devem estar representados. A análise se aprimora e é possível a
compreensão de que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras.
Trabalhar a escrita como um sistema de
representação da língua significa descolar o eixo de compreensão para os
aspectos levantados acima e não para os figurativos, como orientação da
escrita, linearidade, perfeição da cópia etc. esses últimos são facilmente
superáveis pelas crianças.
A passagem da criança de um nível de
conceitualização a outro está diretamente relacionada a um conhecimento
anterior. O tempo em que ela permanece num mesmo nível é muito variável; por
outro lado, essa evolução não é linear,
pois a criança passa por avanços e recuos durante todo o seu processo de
construção da escrita, ainda que seu desenvolvimento esteja diretamente
relacionado ao seu nível inicial de conceitualização. É nessa passagem que a
intervenção do professor pode ser observada.
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