sexta-feira, 18 de julho de 2014

A PSICOGÊNESE DA ESCRITA E DA LEITURA

A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA E DA LEITURA

           Pesquisas de Emília Ferreiro demonstram que a leitura e escrita, como objetos culturais de conhecimento, são adquiridos por um processo de auto-construção, no confronto e interação da criança com o seu  meio.
            Nessas pesquisas, E. Ferreiro comprovou que os vários métodos e estratégias com vistas a favorecer a compreensão e o domínio da leitura e da escrita pela criança, assim como os testes de maturidade, listas de habilidades motoras e perceptivas-temporais, não são suficientes para atingir o êxito desejado no processo de leitura e escrita.
            Haja vista o grande número de crianças que não se alfabetizam mesmo com vários anos de escolaridade. Por isso, a educadora buscou na teoria de Piaget  a explicação sobre o desenvolvimento da criança no ato de ler e escrever, do ponto de vista cognitivo.

A PSICOGÊNESE DA ESCRITA E DA LEITURA

A partir dos dois anos (assim que a criança consegue pegar no lápis ou caneta), ela começa a “rabiscar” (deixar marcas no papel). É a época das garatujas. A princípio, é a imitação mecânica do ato do adulto ao escrever. Mas, a nível conceitual, a criança já dá nome aos seus rabiscos. Ela pode se referir a eles como: “é o papai”, “o caminhão dele”, “minha casa”.

Observação: transição – garatuja/icônico

         À medida que a criança vai crescendo nos seus estágios cognitivos e à medida que lhe é dada oportunidade com materiais impressos e de desenhos,  ela vai avançando cada vez mais. É importante nesta fase estimular a criança a folhear revistas, jornais, livros de histórias, fotos, levando-a a interpretar gravuras e colocar à sua disposição lápis cera grosso, pincel atômico, folhas brancas (grande), para representação gráfica  de seu pensamento.

CONCEITUALIZAÇÃO DA ESCRITA

A escrita como um sistema de representação da língua, cuja a aprendizagem significa a apropriação de um novo objeto do conhecimento. A questão fundamental no processo de alfabetização é a compreensão da estrutura do sistema alfabético enquanto representação da língua, ou seja, não se trata de considerar a escrita alfabética como uma representação gráfica dos sons da língua.
            Dentro dessa perspectiva, E. Ferreiro considera que, no início do processo de alfabetização, as palavras consideradas pela crianças como protótipo da escrita são os substantivos (nomes próprios, comidas, bichos, brinquedos, etc), que devem ter no mínimo 3 letras e também uma variedade delas. Para a criança, as palavras são escritas com diferentes letras, sem repetição. Por outro lado, a evolução da escrita passa necessariamente pelas etapas descritas por E. Ferreiro:

a) Nível Pré-silábico – caracteriza-se por uma busca de diferenciação entre as escritas produzidas, sem uma preocupação com as propriedades sonoras da escrita. Nesse nível, a criança explora tanto critérios quantitativos (variar a quantidade de letras de uma escrita para outra, para obter escritas diferentes) ou           critérios qualitativos (variar o repertório das letras ou a posição das mesmas  sem alterar a quantidade).

Não existe uma relação entre  fonema/grafema. A correspondência entre a escrita e o nome é global, as partes da escrita não correspondem ainda as partes do nome. Cada letra pode valer pelo todo e não tem valor em si mesma.

b) Nível Silábico -  caracteriza-se  pela correspondência entre a representação escrita das palavras e suas propriedades sonoras. É a descoberta de que a quantidade de letras com que se vai escrever uma palavra pode ter correspondência com a quantidade de partes que se reconhece na emissão oral. Essas partes são as sílabas e em geral a criança faz corresponder uma grafia a cada sílaba. Pode servir qualquer letra ou existir uma associação do som à letra convencional. Ex:  TO  MA  TE
                                                                         o      a      e       ou
                                                                         l       x     o
     Esse nível representa um salto qualitativo da criança, que supera a etapa da correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída. A hipótese silábica é uma construção da criança, que não é transmitida pelo adulto e pode coexistir com formas estáveis, isto é, palavras que a criança aprendeu a escrever globalmente.

c) Nível Silábico-alfabético – a evolução desse nível leva a criança a estabelecer que as partes sonoras semelhantes entre as palavras se exprimem por letras semelhantes. Nesse nível, existem duas formas de correspondência entre sons e grafias: silábica (sílaba é o som produzido por uma só emissão de voz)  e alfabética (análise fonética ou análise dos fonemas, que são os elementos sonoros da linguagem e têm nas letras o seu correspondente. O conjunto de letras é o alfabeto). Ou seja, a criança escreve parte da palavra aplicando a hipótese silábica, de que para se escrever uma sílaba é necessário apenas uma letra; e parte da palavra analisando todos os fonemas da sílaba.
Ex:  Para cavalo podem aparecer:
        Alfabética silábica              ou            alfabética silábica alfabética
               CA        VO                                              CA     U    LO
                ca        valo                                              ca      va     lo

d) Nível alfabético – caracteriza-se pela correspondência entre fonemas e grafias. Existe a compreensão da escrita alfabética, onde todos os fonemas devem estar representados. A análise se aprimora e é possível a compreensão de que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras.
     Trabalhar a escrita como um sistema de representação da língua significa descolar o eixo de compreensão para os aspectos levantados acima e não para os figurativos, como orientação da escrita, linearidade, perfeição da cópia etc. esses últimos são facilmente superáveis pelas crianças.
     A passagem da criança de um nível de conceitualização a outro está diretamente relacionada a um conhecimento anterior. O tempo em que ela permanece num mesmo nível é muito variável; por outro lado,  essa evolução não é linear, pois a criança passa por avanços e recuos durante todo o seu processo de construção da escrita, ainda que seu desenvolvimento esteja diretamente relacionado ao seu nível inicial de conceitualização. É nessa passagem que a intervenção do professor pode ser observada.

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