sexta-feira, 18 de julho de 2014

O PAPEL DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL

O PAPEL DO PROFISSIONAL DA ED. INFANTIL

A perspectiva teórica do sociointeracionismo destaca o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua auto-estima e desenvolver suas capacidades.
A auto-estima refere-se à capacidade que o indivíduo tem de gostar de si mesmo, condição básica para se sentir confiante, amado, respeitado. Tal capacidade, porém, não se instala no indivíduo como num passe de mágica, mas faz parte de um longo processo, que tem sua origem ainda na infância. Cabe ao adulto ajudar na construção da auto-estima infantil, fornecendo à criança uma imagem positiva de si mesma, aceitando-a e apoiando-a sempre que for preciso. No entanto, algumas práticas podem ser prejudiciais ao bom andamento deste processo, como por exemplo, a colocação de apelidos pejorativos nas crianças ("manhosa", "maluco", "burro", etc.). Os/as profissionais das escolas infantis precisam manter um comportamento ético para com as crianças, não permitindo que estas sejam expostas ao ridículo ou que passem por situações constrangedoras. Alguns adultos, na tentativa de fazer com que as crianças lhes sejam obedientes, deflagram nelas sentimentos de insegurança e desamparo, fazendo-as se sentirem temerosas de perder o afeto, a proteção e a confiança dos adultos.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito às simpatias que os adultos desenvolvem em relação a algumas crianças. Estas, por sua vez, também têm suas preferências, identificando-se mais com algumas pessoas do que com outras. No entanto, o/a profissional da educação infantil deve tratar a todas com igual distinção. Isto implica não elogiar apenas uma criança (a mais simpática, a mais cheirosa, por exemplo), em detrimento das outras, que podem se sentir rejeitadas, caso não recebam o mesmo tratamento. As atenções e os elogios devem ser dados a todas, não importando a cor da pele, a condição social, se são meninas ou meninos, se têm este ou aquele credo religioso ou ainda se pertencem a determinada família. Os adultos também devem evitar qualquer fala ou ação que possa dar margem a atitudes preconceituosas ou discriminatórias em relação a pessoas ou grupos.

           PROBLEMATIZANDO ALGUMAS PRÁTICAS NO COTIDIANO DA ESCOLA INFANTIL

Determinados aspectos que fazem parte do cotidiano da escola infantil podem influenciar de maneira importante o desenvolvimento das crianças. Muitas vezes estes aspectos, tais como a adaptação à escola, a alimentação, a troca de fraldas, os momentos de sono, entre outros, passam desapercebidos ou se constituem em práticas pouco discutidas no dia-a-dia das pessoas que lidam diretamente com a educação de crianças pequenas. No entanto, muitas dessas práticas constituem-se em pequenas violências que podem afetar negativamente o desenvolvimento infantil. Vejamos algumas delas:

·         Adaptação: ao entrar na creche ou pré-escola a criança se depara com um novo ambiente, composto de adultos e crianças com os quais ela nunca interagiu. O distanciamento da família por longas horas do dia e a inserção em um novo ambiente, com rotinas específicas, exigirão da criança uma grande capacidade de adaptação. No entanto, este aspecto não diz respeito apenas à criança, mas exige de sua família e também dos/as profissionais que atuam na escola infantil um processo de adaptação.

Compete à educadora perceber quais são as características daquela criança, seu jeito de ser e de se relacionar com o novo ambiente que agora passará a frequentar, bem como a maneira como interage com os/as colegas e com as pessoas que dela cuidam/educam. E preciso respeitar o ritmo de cada criança, bem como suas manifestações de medo e ansiedade. Os pais e as mães devem ter o direito de circular nas dependências da escola, recebendo todas as informações necessárias sobre a rotina desenvolvida naquela instituição.
Cabe à creche ou pré-escola estabelecer, se possível, um sistema gradativo de adaptação para cada criança, em que nos primeiros dias ela possa ficar apenas algumas horas e aos poucos vá se acostumando àquele novo ambiente, até que permaneça em tempo integral, se for o caso. Deve-se fazer um planejamento de ingresso na instituição, através de um calendário a ser combinado com as educadoras e a família, de forma que não haja numa mesma turma muitas crianças ao mesmo tempo (no mesmo período) em fase de adaptação. Suponhamos que numa determinada turma ingressem oito novas crianças: então pode-se fazer um planejamento para que a cada dia a professora receba apenas uma ou duas no turno da manhã, e outras duas crianças no turno da tarde. No dia seguinte pode-se receber mais duas e assim por diante. Desta forma, é possível para a professora dar uma maior atenção àquelas crianças que estão ingressando na instituição.
No período de adaptação os pais podem ficar alguns momentos na sala, até que a criança adquira um pouco de confiança naquele novo ambiente e nas pessoas que ali estão. Aos poucos não será mais necessário que a mãe ou o pai fiquem todo o tempo na sala do/a filho/a, podendo esperar na sala ao lado, por exemplo. No entanto, não se deve mentir para a criança, dizendo que ficará lá fora, se a intenção for realmente ir embora. A escola infantil não deve incentivar as "fugas" dos pais, pois a criança deve ser informada de que eles precisam sair para trabalhar, mas que voltarão mais tarde para apanhá-la. Sair sem que a criança perceba não é o comportamento mais apropriado, pois ela precisa se sentir segura em relação aos adultos, tendo confiança de que não será enganada. O que for estabelecido entre educadora e pais com relação à adaptação da criança deverá ser mantido. Por exemplo, se ficar combinado que o horário de entrada no período de adaptação daquela criança é às 9 horas e a saída às 13 horas isto precisará ser respeitado, a menos que haja alguma necessidade de mudança. Neste caso, novas combinações poderão ser feitas, mas sempre em comum acordo entre educadoras e pais.
De um modo geral, as escolas infantis têm permitido que a criança traga de casa algum objeto seu de estimação, para que ela possa se sentir segura e confiante frente a este novo ambiente. Outra estratégia interessante pode ser estar com o irmão mais velho ou com alguma outra pessoa na qual a criança confie (tia, avó, avô), pois nem sempre os pais podem estar disponíveis ou podem ser liberados do trabalho em função da adaptação da criança.
É importante salientar que as dificuldades de adaptação não se manifestam apenas através do choro, mas podem aparecer em forma de apatia, falta de apetite ou mesmo através de algumas manifestações de doença. O ambiente da creche ou pré-escola deve ser prazeroso e agradável, despertando a confiança da criança neste tipo de instituição.

·         Relacionamento entre escola e pais: os responsáveis pela criança devem ser sempre informados sobre tudo o que ocorrer com ela durante o período em que estiver na instituição, bem como a forma de trabalho e a proposta pedagógica que é ali desenvolvida. Algumas creches e pré-escolas procuram manter esse diálogo através de agendas ou cadernetas onde são anotadas as informações referentes àquele dia na instituição (se a criança comeu ou dormiu bem, se caiu ou foi mordida por algum colega, etc). Tudo o que acontece com a criança no espaço da escola infantil deve ser comunicado aos responsáveis. Estes devem ser chamados a uma maior participação, sempre que necessário. Porém é preciso estabelecer limites quanto à intervenção dos pais no espaço escolar, pois alguns deles pensam poder mandar em tudo na escola, desrespeitando muitas vezes o trabalho que é ali desenvolvido. Cabe à escola infantil conquistar a confiança e o respeito dos pais, através de um trabalho competente e bem fundamentado pedagogicamente.

·         O sono: não deve ser entendido sempre da mesma maneira para cada faixa etária, pois cada criança possui um ritmo próprio em relação às horas de sono de que necessita para seu descanso. Desta forma, quanto menor a criança, mais tempo ela dormirá. Bebês precisam de um ambiente calmo, aconchegante, para que seus momentos de sono não sejam perturbados. À medida que vai crescendo, a criança não necessitará mais de tantas horas de sono à tarde. Algumas escolas infantis, no entanto, costumam obrigar as crianças a dormirem após o almoço, não respeitando assim as necessidades individuais de cada uma delas. Chegam mesmo a usar inúmeras estratégias para que as crianças durmam. Num primeiro momento, as estratégias utilizadas para fazer as crianças dormirem, podem parecer até muito naturais, mas são na verdade uma violência ao direito delas. É preciso proporcionar atividades alternativas para aquelas crianças que não quiserem ou não conseguirem dormir. Alguns espaços poderão ser adaptados para este propósito: o canto de leitura, atividades de pintura, desenho, etc. O importante é proporcionar às crianças outras opções, além do vídeo ou da música clássica, muitas vezes usados como estratégia para fazer as crianças dormirem. Não se pode ignorar, porém, que muitas creches e pré-escolas têm sérios problemas de falta de pessoal, o que as obriga a tirar como única hora de descanso das atendentes, os momentos de sono das crianças. Cabe à escola (e às instâncias superiores, se for o caso) tentar alternativas adequadas para sanar este problema. O ideal é a contratação de mais profissionais, a fim de que se possa fazer um escalonamento, para que todos os que trabalham na instituição possam ter seus merecidos momentos de descanso, sem, no entanto, prejudicar as crianças. Mesmo durante o período de sono das crianças é indispensável a presença do adulto, no caso de alguma eventualidade (a criança passar mal, ou simplesmente acordar, ou ainda ficar assustada por algum motivo). E preciso lembrar que no horário de trabalho o profissional tem que estar realmente trabalhando (e não descansando).

·         A alimentação: assim como as horas de sono, os momentos da alimentação são, para muitas crianças e professoras, momentos de stress e tortura. Na tentativa de proporcionar à criança uma alimentação variada, rica em proteínas, etc., muitos adultos acabam obrigando a criança a comer, mesmo que ela não goste ou não esteja com vontade. Outra questão polêmica refere-se à introdução do copo ou caneca em substituição à mamadeira, pois no Brasil muitas famílias costumam prolongar em demasia o hábito da mamadeira, assim como o da chupeta ou bico. Sua retirada depende de longas negociações com a criança. Estes problemas de ordem cultural acabam provocando um processo de infantilização da criança. Qual deve ser a atitude da escola infantil frente a estas questões?
Por volta dos dois anos já é possível introduzir a caneca ou copo na hora das refeições. Caso a criança se recuse, querendo apenas a mamadeira, não se deve obrigá-la a utilizar o copo, pois o importante é que esteja alimentada. A introdução do copo nas refeições deve ser feita gradativamente, sem exigir da criança sua adesão imediata a essa nova forma de se alimentar.

·         Uso de chupetas: as teorias psicológicas têm enfatizado a importância da fase oral para o desenvolvimento infantil. Desta forma, a boca desempenha um papel fundamental, pois é através dela que o bebê conseguirá não só o alimento, mas momentos de satisfação ao sugar o seio materno. Na cultura brasileira o uso da chupeta ou bico tem sido um importante aliado, na opinião de muitas mães e professoras, no sentido de acalmar as crianças, ou ainda como uma espécie de substituto do seio materno. A utilização ou não da chupeta no espaço da escola infantil tem-se tornado uma questão difícil, pois em muitas famílias há o costume de prolongar o seu uso até idades mais avançadas. O que fazer com as crianças que nunca chuparam chupeta, mas que ao chegar na creche ou pré-escola, se sentem atraídas por tão "fascinante" objeto, utilizado pelas demais crianças? No desejo de imitar seus pares, tais crianças acabam por compartilhar com as outras a chupeta. Ora, sabemos que apesar do conforto que a chupeta pode trazer, principalmente para os adultos, que se vêem livres do choro e da solicitação infantil, este objeto representa um foco importante de transmissão de doenças, principalmente se sua higiene não é feita corretamente. É comum também presenciarmos cenas em que a criança sai engatinhando pelo chão arrastando a chupeta, que geralmente está presa à sua roupa por uma longa fita ou cordão. Os dentistas também alertam para os prejuízos que a chupeta pode causar para a dentição. Como então administrar tal situação? Deve a escola impor a retirada da chupeta? Em que momentos esta pode ser usada no espaço da escola? Quais os prejuízos pedagógicos que o uso constante da chupeta pode trazer?

O principal prejuízo que o uso da chupeta pode trazer refere-se à dificuldade que a criança terá em articular corretamente as palavras, caso esteja com a chupeta na boca. Além disso, certamente apresentará um comporta-mento mais regressivo, que a impedirá de vivenciar novas conquistas, principalmente no campo da linguagem.
Algumas combinações previamente estabelecidas com a família e com o próprio grupo de crianças talvez seja a forma mais adequada de lidar com essa questão. Crianças entre dois e três anos já conseguem entender algumas regras que podem ser introduzidas no grupo. Combina-se, por exemplo, que ao chegar na escola infantil, as crianças devem guardar a chupeta na mochila, ou que a mesma só será devolvida na hora do descanso.

·         O choro: Há uma ansiedade muito grande dos adultos em torno das manifestações de choro da criança. No entanto, seria interessante aprendermos a escutar melhor este choro, para melhor interpretá-lo, pois existem sutis diferenças entre um choro de angústia, fome, raiva, dor ou desconforto. Cabe ao adulto: não manifestar irritação diante do choro infantil, rotulando a criança de "chorona", "mimada", etc; dar colo e aconchego não deve ser considerado como um precedente para tornar a criança "manhosa"; tentar perceber o motivo do choro é fundamental para uma intervenção adequada, sanando assim a necessidade daquela criança; no caso de crianças um pouco maiores que já saibam falar, pedir a elas que digam o motivo de sua insatisfação, pois é importante fazer com que percebam a importância e eficácia de expressar suas necessidades, seus problemas e seus desejos através da fala e da argumentação.

·         Tirando as fraldas, controlando os esfíncteres: o controle das fezes e da urina talvez seja uma das primeiras cobranças externas de socialização, constituindo-se em momentos de muita ansiedade para os adultos, que, por vezes, obrigam as crianças a permanecerem longos períodos no penico até que façam suas necessidades fisiológicas. E preciso lembrar mais uma vez que não devemos estabelecer uma idade rígida para que isto se dê. Geralmente a capacidade de controlar o coco e o xixi começa por volta dos dois anos, ou mesmo antes, para algumas crianças.

Cabe à escola infantil estabelecer algumas combinações com a família para a tirada da fralda e a introdução do uso do penico, pois o ideal é que isto se dê de forma conjugada - tanto na escola quanto na família. No entanto, colocar as crianças por muito tempo no penico, ou brigar com elas, expondo-as até mesmo ao ridículo pelo fato de não terem conseguido se controlar, pode ser considerado como maus-tratos. Esta atitude de incompreensão e intolerância por parte do adulto pode trazer sérias consequências de ordem psicológica para a criança. Em alguns casos há uma inibição que se expressa não só pela recusa em ir ao banheiro, mas pode chegar ao extremo da criança desenvolver verdadeiro pânico ao ter que ir para a creche ou pré-escola, não querendo passar de novo por alguma situação constrangedora diante dos companheiros ou da professora.
Outro problema refere-se à prática de colocar todas as crianças ao mesmo tempo e à mesma hora para fazer coco ou xixi, como se todas as pessoas fizessem suas necessidades sempre no mesmo horário. Tal atitude também se constitui numa violência aos direitos da criança. Essa questão do que deve ser coletivo e do que deve ou pode ser individual precisa ser melhor debatida no contexto escolar, especialmente na escola infantil.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC/SEF/COEDI, 1995.
CRAIDY,Carmem Maria. Org. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre. Ed. Artmed, 2001.                                                                                            REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995.


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